Como na primeira vez!

Maio, 05.
Queridos Amigos

Queria mostrar-vos uma música (Solo le  pido a Dios) da grande Mercedes de Sosa, argentina.  Tem servido como uma espécie de hino orante que acompanha muitos dos meus dias, em que já me vou habituando ao que vejo por aqui; tanto, que às vezes parece que deixo de sentir o que senti nas primeiras vezes que vi  e que vivi!

Só peço a Deus que a dor, a injustiça, a guerra, o engano não me sejam indiferentes. 


Tenho pensado na força das primeiras impressões. Se é verdade que nem sempre podemos confiar nas primeiras impressões no que diz respeito às relações humanas; também creio ser verdade que quando nos tocam profundamente, devem ser o solo onde ganha raízes a percepção do que nos rodeia.

Quando as primeiras impressões deitam por terra tanto (se calhar tudo) do que damos por garantido; quando nos obrigam a perguntarmo-nos "Quem é o meu próximo?"; quando nos transportam para uma inquietude desaconchegante,  talvez essas primeiras impressões digam quase tudo, porque falam ao coração.  O coração inquieto é depois levado a experimentar  a dor de outros corações e encontrar aconchego num Outro coração rasgado que diz o tudo, e aí a aprender a amar mais.

Mas... depois, quando o nosso olhar se habitua, sem querer, o coração pode tornar-se impermeável a dor, à injustiça, à guerra, ao engano, etc. e encontrar conforto em outros sentidos que não aconchegam.  Não é difícil que o sofrimento - quando não é "nosso" - se torne distante e nos tornemos alheios; não é difícil, ainda que pareça impossível, que nos tornemos indiferentes à dor e que o nosso coração deixe de ver e viver como na primeira vez.

É por isso que rezo: "Só peço a Deus que a dor, a injustiça, a guerra, o engano não me sejam indiferentes"; no fundo rezo - também como na música - que o futuro não me seja indiferente, o futuro dos "meus" e o meu próprio ... que seja como na primeira vez!

Abraço-vos com amor, esse amor que tenho aprendido com o coração unido à dor do meu próximo!

G.

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