VAREKAI

Fevereiro, 21.2018 Queridos amigos Já há muito que queria partilhar o que tenho vindo a aprender sobre o "ter medo", mas fui sentindo que não tinha todos os dados para expressar o que conseguia apreender apenas pelo  entendimento. Agora tenho! Quando cheguei, percebi que as pessoas estavam "cansadas de ter medo". Ouvi várias vezes esta partilha. De algum modo, foi esse cansaço - depois de quatro anos a viver sob o medo -  que fez com que se fossem erguendo e recomeçando a caminhar... a ponto de terem conseguido chegar a uma quase-normalidade, em que o medo já não fazia parte do dia-a-dia! À volta, o país continuava em guerra, mas nas ruas de Damasco - não obstante os vestigios -  uma nova vida recomeçou. Eu cheguei depois desse recomeço. E fui me admirando pelo ânimo e coragem que via. De entre as muitas aprendizagens que fui fazendo, aprendi também a estar "cansado de ter medo"... mas sem nunca ter experimentado. Nestes dias houve um volte-face ,

Queridos Amigos Já há muito que não partilho aquilo que vou vivendo por estas terras, não que não tenha tanto para contar, pelo contrário! É tanto - imenso - que fico sem palavras. São tantas as imagens que preenchem o meu dia que é difícil escolher uma. Escolho agora uma de beleza para acompanhar esta partilha. De algum modo contrasta com o que vou experimentando. Comecei, no inicio de Janeiro, a trabalhar a tempo inteiro no JRS Damascus , num dos nossos centros que fica numa zona de periferia, numa das zonas de Damasco mais afectadas pela guerra. O meu papel principal é ajudar na organização da casa, criar condições de possibilidade para que o staff, os colaboradores e sobretudo as crianças (cerca de 200 diariamente) possam disfrutar melhor do espaço no tempo que lhes é dado. E parece tão pouco tempo e tão pequeno espaço para o tanto o que é necessário fazer. Cada dia vou entrando mais nas histórias, nas feridas, nas memórias de dor e  nos desejos de uma vida reconstruida  .