Quaresma na Síria

Queridos Amigos

Há dias, numa troca de mensagens caí na conta de que se aproximava o carnaval (e consequentemente a Quaresma!) e eu estava a milhas!  Ou talvez não!

Senti-me um pouco envergonhado. Como é que este tempo tão importante no ritmo da vida espiritual me estava a escapar? Ou, estaria eu a escapar-me a este tempo? Para onde é que eu estaria a olhar? 

Depois, apercebi-me que talvez estivesse a olhar para o lugar certo! Afinal, eu já sou sírio como os "meus" insistem em dizer vezes sem conta. Não, não sou sírio, mas a verdade é que me sinto imerso de corpo inteiro entre os "meus". E aqui há um outro olhar (ou olhares) sobre o ritmo da vida espiritual!

Primeiro, porque a minoria cristã (menos de 2%) está dividida em quase-incontáveis denominações e cada uma com um calendário diferente. Dentro da minoria cristã, a igreja Latina  (como é conhecida) é quase inexpressiva;  mesmo entre os meus irmãos jesuítas. Eu sou o único "latino" por estas bandas. Para uns, a quaresma já começou há dias e para outros só daqui a uma semana. É claro que o "carnaval" no meio destes fins-e-começos perde-se, e creio que nem se quer é noticia nos noticiários.

Mas, também reconheço uma outra razão para além dos calendários. Os "meus"  - e eu com eles - vivem uma longa quaresma, com privações e sacrifícios inimagináveis, e com tempos de duros calvários. E parece que a maior penitencia quaresmal é fazermo-nos acreditar que a Páscoa virá e vencerá o medo, o sofrimento, a injustiça e a morte. Acreditar, não obstante toda a adversidade, que a aurora da ressurreição está no horizonte - mesmo que não a consigamos vislumbrar todos os dias - é o que nos move e nos prepara para o dia de amanhã. A esperança ainda tem a última palavra, assim como o amor! Afinal, se calhar, não estou a milhas! 

Ainda assim, hoje na missa com o staff recordaremos, na imposição das cinzas, a Páscoa que virá!

Coloco-vos nessa recordação, para que continuemos a caminhar juntos.

Com amizade,

G.